Não, não preciso dizer que esta é a eleições com o maior número de candidatos ‘pelos animais’ que já vi. Entre idealistas e picaretas, vários são os que aparecem no santinho de papel, ou eletrônico, abraçados a um cachorro. Claro, ninguém abraçaria um porco, uma conchonilha ou uma galinha. Iria provocar risos entre a patuléia, a mesma que é obrigada a apresentar documento e apertar uns botões em uma urna. Ganha um feriado, e assim se faz uma democracia, em tese.
O fato é que um expressivo número de franco-atiradores, digo, candidatos, descobriram o nicho ‘animais’ – e, obviamente, não falo do setor pecuarista, que já descobriu há muito o nicho ‘animais’, mas com um sabor diferente, digamos. Há ativistas, protetores/socorristas, vegetarianos e veganos que tornaram pública sua afinidade com os não-humanos com intenção de ganhar simpatia do eleitorado, essa massa disforme que muitas vezes age como lemingues, outras vezes como corais, búfalos ou formigas, e outras vezes como nenhuma das opções anteriores.
No Brasil é obrigatório votar, exceto as exceções, então quem está dentro da causa animal terá um leque de opções vinculadas a seu pensamento para saber em quem depositar seu voto. Este é um farsante? Aquele já fez projeto contra os animais, e agora vi no Facebook uma foto dele com cachorro? Aquela tem trajetória reconhecida na causa, esta é mais ou menos? Que todos tenhamos interesse em descobrir essas respostas, pois serão quatro anos, desdobráveis em outros, com alguém ajudando na defesa, ou ajudando a dinamitar nossas já frágeis estruturas de defesa dos animais não-humanos.
O ‘candidato conversinha’.
Quer dizer, é necessário dar uma peneirada geral, uma pesquisada básica – Google não tem taxímetro – e mesmo o diálogo com outros interessados, para não dar um voto a um oportunista ‘dos bichinhos’ e, ao mesmo tempo, deixar de votar em alguém que tem o culhão necessário para adentrar na política, sabendo que lá dentro a briga é de foice afiada.
Porque também não podemos cair no mantra boca-suja de dizer ‘odeio política’. Quem odeia política deve se mudar para a Lua ou para Marte, pois mesmo no meio do mato a política lhe alcançará no dia a dia. Política não é o ‘horário eleitoral’ na televisão, como já ouvi de alguns eternos desinformados. Não podemos ser ingênuos. O que vestimos, por onde andamos, nossas ‘escolhas’, dinheiro, saúde, segurança, calçada suja, carroça, ‘tadinhas das crianças passando fome’, tudo está debaixo desse guarda-chuva chamado política. Que não se resume ‘àquela roubalheira lá em Brasília’, nem em ‘odeio PT’ ou ‘odeio quem odeia o PT’.
Não podemos ser tão simplórios na maneira de ver, pois há quem realmente faz, fez e/ou fará ações dignas em prol dos animais, quais sejam. Ainda há muito o que fazer, e parece até clichê dizer que é o povo quem escolhe seus líderes – embora às vezes o cenário político pareça uma novela, que conta conosco como meros telespectadores. Ressalto, pois ouço gente dizer que está farto da política, como se fosse um corpo vivo à parte, e não um acordo entre todos. Se há problemas, revejamos esse acordo, ou pensemos porque a maioria tende à apatia moral, à bundamolice ideológica, ao conformismo de quem se abstém de ajudar a preparar o bolo que, lá adiante, terá que comer também.
O voto pelas minorias humanos tem se solidificado no Legislativo. Falta agora botar, ‘lá dentro’, gente raçuda que vai afiar sua foice em prol dos animais. Mas os animais não têm título de eleitoral, ainda que submissos, também, aos ditames da política. Você vai votar por eles, ou contra?
Texto de Marcio de Almeida Bueno
Fonte: ANDA
Por Alex Peguinelli
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