Escrevemos esse relatório depois de
estarmos presentes nos bretes do rodeio de Tarumã, cidade do interior do Estado
de São Paulo. Nossas ações culminaram no vídeo que você pode assistir ao final dessa postagem. Observe que embora filmado em um rodeio específico, essa mesma situação se encontra presente em todo e qualquer
outro lugar. Não há rodeio sem crueldade animal.
Enquanto os seres humanos não
deixarem de confundir sadismo com diversão e entretenimento, viveremos
subjugando outras espécies. Animais não são objetos, não são seres desprovidos
de sentimentos e devemos olhar para eles como iguais. Devemos olhar para os
animais como seres que têm direito à vida, à liberdade e à dignidade.
Vamos ao relato.
Ao chegar ao rodeio, o primeiro instrumento usado para
causar maus-tratos com o qual nos deparamos foi o sedém ou sedem, utilizado na
região do vazio do animal. Pudemos observar que antes de ser liberado para a
arena, o animal tem o sedém puxado bruscamente, a pressão faz com que o animal
corcoveie de maneira regular, em pura tentativa de arrancar de si algo que está
lhe infligindo dor e desconforto. Tanto é assim que, logo que o boi volta para
o brete, um peão é designado para afrouxar o sedém e retirá-lo do animal.
Os organizadores dizem que o sedém é feito de um material
que não machuca os animais e que a função deste é apenas fazer cócegas. Só que
eles esquecem que mesmo as cócegas poderiam ser tidas como um desconforto e
qualquer desconforto será considerado como maus-tratos. Portanto,
independentemente do material de que é feito o sedém, sua função é simples e
objetiva: causar dor e desconforto ao animal.

Flagramos também peões dando socos e chutes nos bois, em uma
maneira de tentar conduzi-los através do brete ou mesmo como tática para que os
animais se sentissem ainda mais acuados e aterrorizados. Esses socos e chutes
foram desferidos por vários peões em vários momentos diferentes. Além de
agressões físicas, existiam até mesmo agressões verbais aos bois, xingamentos
como “vagabundo”, “desgraçado”, etc eram comuns. Fica um pouco difícil entender
o propósito de tais insultos, que só vêm a revelar a ideologia dessas pessoas,
tornando-se gratuitas demonstrações das relações estabelecidas entre os peões e
os animais.
Além do sedém, dos socos, chutes e xingamentos, havia outros
elementos usados para causar dor aos animais. Entre eles, as esporas, mesmo que
sem pontas, e o sino pendurado na chamada corda americana, que se mantém presa
na região posterior do animal, próxima ao peito.
As esporas são um elemento óbvio de provocação, sendo usadas
para que o animal corcoveie ainda mais na arena, podem causar danos maiores aos
bois, dependendo do local onde é desferido o golpe. Os sinos são mais um dos
vários instrumentos utilizados para gerar desconforto. São presos perto do
aparelho auditivo do animal e servem para desorientar, criando sensação de
pânico.
Além dos sinos, outro elemento sonoro que era capaz de
deixar os animais em pânico eram os fogos de artifício que explodidos bem
próximos do local onde ficavam os animais. Como se não fosse suficiente o
extremo barulho desorientador gerado pelo sino e pelos fogos, a caixa de som do
palco (onde aconteciam as apresentações) ficava menos de cinco metros de
distância do brete, onde muitos bois ficavam posicionados.
A condução dos animais através do brete era feita de maneira
precária. Além de se utilizar de socos e pontapés, os animais eram puxados pelo
rabo e recebiam pauladas dos peões. O que para a organização era visto como
algo comum, já que tinham nos informado a respeito disso. No entanto, não
bastassem pauladas, socos e pontapés, conseguimos flagrar peões utilizando-se
de um condutor de choques elétricos para organizar os bois depois que eles
saiam da arena.

Quando comentamos esse fato com o veterinário responsável,
foi-nos dito que o aparelho estava desligado e que os animais estavam sendo
conduzidos só pelo medo ao olharem para o instrumento de choque, ou seja, os
animais já haviam recebido tanto choque através desse aparelho que estavam
condicionados (tal qual o tratamento cruel destinado aos animais de circos) a
evitá-lo. De qualquer maneira, o veterinário responsável não soube nos explicar
porque ainda assim os peões encostavam o aparelho elétrico nos animais, já que
só de manter contato visual com o aparelho, os animais, segundo ele,
deixavam-se conduzir. Não explicou
também porque motivo os peões, quando nos viam por perto, tentavam esconder o
condutor de choques elétricos e utilizavam-se “somente” dos paus para conduzir
os bois.
Afora essas situações de maus-tratos já mencionadas, todos
os animais estavam privados de água e comida durante a duração do evento.
No entanto, o maior indicador de maus-tratos aos animais, não
era essa falta de água ou comida, não era a condução de animais através de
socos, pontapés, paus, condutor elétrico, não eram os insultos, os sinos presos
aos animais, o som alto próximo, o sédem, mas a completa falta de respeito das
pessoas ali presentes, que viam aquele animal não como um sujeito que deveria
ser respeitado, mas como mero objeto e instrumento de “diversão” e “entretenimento”.

Impossível não pensar em como aquelas pessoas não se
incomodavam com o próprio comportamento do animal ali no brete, ali na arena,
sendo forçado a manter-se preso, tendo seus testículos amarrados, sendo
agredido a todo instante. O que pudemos ver foi um animal amedrontado e acuado.
Era impossível se aproximar de um boi sem que esse começasse a se mexer
desesperadamente numa tentativa de afastar a pessoa que tentava se aproximar.
Quando retornavam de sua “apresentação” na arena se debatiam contra as grades
de metal numa tentativa desesperada de fuga. O terror era tão intenso e o
stress tão freqüente que os animais chegavam a defecar em si mesmos momentos
antes de adentrarem a arena de rodeio. Seu comportamento agressivo era uma
clara demonstração do medo, do pânico, ao qual estavam sendo submetidos.
Por isso ficamos ainda mais preocupados, não só pelos
animais que estão ali, vítimas e escravos de uma tradição humana, mas por
aquilo que os próprios humanos consideram e denominam como tradição. Enquanto
considerarmos os animais como meros instrumentos que podem ser utilizados pelo
homem até seu desgaste, meros objetos sem valor inerente, estaremos passando
adiante uma tradição especista, baseada na escravidão animal e seu jugo diante
do ser humano. Precisamos optar por tradições de paz, que busquem a harmonia
entre as espécies do planeta Terra, tradições baseadas no respeito, na
igualdade e na liberdade (valores essenciais à construção de uma sociedade mais
justa).
Os animais não são coisas, não são objetos, são seres
dotados de vida e vontade própria. Os animais são, antes de qualquer coisa,
sujeitos de sua própria existência.
(As imagens são ilustrativas de outras "festas" de rodeio)
Assista abaixo o vídeo feito pelo V.I.D.A.
Por Alex Peguinelli