16 de agosto de 2012

Repúdio ao especismo


Por Súlivan Sena e Rogério Che | ”Sustento que não pode haver nenhuma razão — com exceção do desejo egoísta de preservar os privilégios do grupo explorador — de evitarmos estender o princípio fundamental da igualdade de consideração dos interesses aos membros de outras espécies.”
Peter Singer, Animal Liberation, 1975

A maior lição da nossa década é a integralidade. Estudos ecológicos e econômicos mostram que as soluções para os grandes problemas de nossa época pedem soluções integrais e descentralizadas. Já não se pode separar os problemas por áreas de conhecimento, precisamos relacioná-los.

A estratificação da sociedade e o antropocentrismo tem origem comum no patriarcado, “ideologia na qual o homem é a maior autoridade, devendo as pessoas que não são identificadas fisicamente com ele (isto é, que não sejam também adultos do sexo masculino) serem subordinadas, prestando-lhe obediência.” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Patriarcado).

Não é novidade a relação entre as ciências humanas e biológicas. Exemplo bastante conhecido é o condenável darwinismo social, “correntes nas ciências sociais baseadas na tese da sobrevivência do mais adaptado, da importância de um controle sobre a demografia humana.” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Darwinismo_social) Outra derivação de estudos comuns às duas áreas levaram ao cunho da expressão “especismo”, paralela ao “racismo” onde os subjugados, ao invés de serem os seres de outras raças, são os animais não-humanos. “O especista acredita que a vida de um membro da espécie humana, pelo simples fato do indivíduo pertencer à espécie humana, tem mais peso, mais importância do que a vida de qualquer outro ser. Os fatores biológicos que determinam a linha divisória de nossa espécie teriam um valor moral – nossa vida valeria ‘mais’ que a de qualquer outra espécie.” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Especismo)

Os pensadores iluministas buscaram substituir o Deus onipresente e onipotente da religião e das superstições populares pela “deusa Razão”. Acreditava-se que semeando razão se colheria progresso. De fato, as ideias iluministas ajudaram muito no avanço da educação, da ciência e tecnologia e para o desenvolvimento econômico dos povos do mundo. Porém, a forma concreta como isto se deu foi por meio da Revolução Industrial e todas as suas consequências nefastas para as classes trabalhadoras.

Em tempos onde dialogamos e agregamos diariamente causas que tem em comum a luta pela igualdade, devemos ter clara que nossa posição necessita de uma “razão sensível”. Há muito discute-se a diferença intelectual entre homens e mulheres, o sexismo. Há muito defende-se as diferenças entre brancos, negros, índios e orientais, o racismo, justificando-se assim até mesmo a escravidão. Hoje defende-se a diferença entre animais humanos e não-humanos, o especismo, e a enormidade do sofrimento e do martírio que os seres humanos infligem hoje aos outros animais é conhecida por todos.

“Contudo, permanece a velha concepção antropocêntrica que se manifesta na separação entre natureza e cultura e na falta de instrumentos para combater o especismo. Ou seja, o ser humano continua a discriminar os animais sencientes, utilizando-os para a alimentação, para diversos usos e a prática da ‘escravidão animal’. Muitas pessoas ainda acreditam que pelo simples fato de serem humanos e racionais possuem mais direitos e maior poder sobre a vida de outros seres vivos de outras espécies. É a racionalidade instrumental a serviço do egoísmo humano e em nome da dominação e exploração de outras espécies.

Ou seja, é preciso colocar um fim ao especismo. Os Direitos Humanos não podem estar em contradição e em conflito com os direitos da Terra e os direitos da biodiversidade. A humanidade precisa saber utilizar a sua racionalidade, não para a dominação e a exploração predatória da Terra e das demais espécies vivas, mas é preciso saber utilizar a razão para a convivência pacífica e harmoniosa entre todos os seres vivos do Planeta.”

(José Eustáquio Diniz Alves)

O que impressiona é a crescente demanda de oposição aos que lutam pela libertação animal. Existem justificativas hediondas como a relevância da vida de plantas (Como saber se as plantas ou as pedras podem sofrer? É uma questão difícil de resolver em termos absolutos, mas na prática é fácil chegar a conclusões simples) e a desculpa de ativistas apenas quererem um reformismo dentro do sistema atual no qual “sobrevivemos”. A minha questão é até que ponto podemos excluir uma causa da outra ou até que ponto chegamos em nossa “unilateralidade egoística”?

Uma pena que vemos humanos tão embrutecidos pelo conhecimento. Triste saber que estamos tão acomodados em livros e teses, que em essência dialogam SIM com todo tipo de sofrimento e injustiça, e atemo-nos apenas dentro daquilo que compreendemos como a única maneira de ser e fazer algo realmente “justo”, revolucionário. É preciso repensar sobre justiça. É preciso refazer nossas questões e a maneira como foram moldadas nossas concepções.

“Cridle – por que tão sombrio, caro Pedro Paulo?
Bocarra – Lembra-te Cridle, o dia em que percorrendo o matadouro – era noite – paramos ao pé da máquina de enlatar presunto? Lembra-te , ó Cridle, aquele vitelo que virava o olho claro, grande e obtuso para o céu enquanto entrava a faca? Senti como se fosse carne da minha carne. Ai de nós, Cridle, como é sangrento o nosso comércio.”

Santa Joana dos Matadouros
Bertold Brecht


Fonte
Por Nathalia Mota

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