19 de setembro de 2012

“Os órfãos do leite” | Uma investigação sobre a indústria leiteira da América do Sul


No mínimo, você nunca mais vai consumir laticínios do mesmo jeito.

Em um excelente trabalho, a ONG chilena “Elige Veganismo” conseguiu reunir um material polêmico e inédito na América do Sul sobre a indústria do leite e seus derivados. Os ativistas chilenos se infiltraram como trabalhadores em mais de uma dúzia de pequenas, médias e grandes empresas de leite em seu país. O resultado de meses de gravação já era esperado mas, ainda assim, surpreende e choca.
O vídeo documentário que resume o trabalho da “Elige Veganismo” tem 30 minutos e pode ser assistido no Youtube. Nele, os ativistas contam as etapas da vida de vacas e seus filhotes nessa indústria.

Inseminação
Para ter leite, assim como uma mulher, uma vaca precisa estar “grávida” (ou prenha, como dizem). Para manter as vacas em um ciclo em que possam ser ordenhadas e exploradas, os criadores inseminam artificialmente estes animais. O processo é, obviamente, invasivo e estressante.

Mastites
Por serem constantemente ordenhadas por máquinas e consumirem rações que fazem com que a produção de leite cresça acima do normal da espécie, as vacas sofrem de doenças relacionadas a inflamações e inchaços dolorosos.

O nascimento das crias e a separação
Antes do nascimento das crias, as vacas são diariamente ordenhadas por máquinas para fornecer leite ao produtor. Quando nascem os bebês, os fazendeiros separam imediatamente os filhotes de suas mães. Os que não são mortos, choram pela presença de suas mães por até 20 dias. Estes são os órfãos do leite. As mães, por sua vez, continuam berrando por suas crias por dias.

Filhotes macho: morte. Filhote fêmea: exploração e morte
Se o filhote for macho, está fadado a receber uma injeção que o mata, pois simplesmente não tem valor comercial no ciclo da indústria do leite. Alguns deles são destinados à produção de vitela (tipo de carne branca apreciada como iguaria). A vitela, embora seja uma carne bovina, é considerada branca por ser deficiente em ferro. Os bezerros machos são criados amarrados e em uma dieta com zero de ferro para que sua carne se torne macia, com músculos pouco desenvolvidos. Este processo dura alguns meses e o bebê macho é morto enquanto ainda é um bebê. Portanto, a carne de vitela é branca e macia porque vem de um animal anêmico e que é forçado a ficar parado por toda sua pequena vida.
Se a filhote for fêmea, é encaminhada para outra área da fazenda onde vai crescer em espaços minúsculos para logo começar a ser inseminada e explorada como sua mãe foi e recomeçar o ciclo. Ainda bebês, têm seus chifres brutalmente impedidos de crescer: os fazendeiros passam uma espécie de pasta cáustica que faz com que as filhotes se contorçam de dor por horas. Nos chifres, estes animais têm milhares de terminações nervosas. Depois, um empregado esfrega um ferro quente na área para “matar” o chifre.

No final, o destino é o mesmo dos animais considerados “de corte”: o matadouro
Nas fazendas investigadas no Chile, a vida média das vacas leiteiras é de 5 anos. São 5 anos de dor, exploração e angústia. No final, elas simplesmente são descartadas como carne barata.

Padrão na indústria, inclusive no Brasil
Infelizmente, as cenas conseguidas nas mais de 12 fazendas visitadas no Chile não são casos isolados. Estes fatos apenas reforçam tudo que já havíamos visto em países europeus e norte-americanos. No Brasil, onde foram produzidos apenas em 2010 mais de 20 bilhões de litros de leite, os processos são parecidos. Muda o jeito de “descartar” o bezerro macho de uma fazenda para a outra, muda o tratamento para melhor ou para a pior aqui ou ali, mas a exploração é o foco do negócio e a crueldade é parte do manejo.

Infelizmente, nosso país é disparado o maior produtor de leite de vaca do mundo. O Brasil, sozinho, explora mais do que o dobro de vacas que toda a União Europeia somada, que vem em segundo lugar.

A investigação chilena deu origem a este site: www.huerfanosdelaleche.com


Por Nathalia Mota


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