31 de maio de 2011

Dilema do onivorismo: Mark Zuckerberg, você está fazendo (e entendendo) isso errado

Foi noticiado recentemente que Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook, começou o bizarro hábito de matar os animais que come:


O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, decidiu comer apenas a carne dos animais que ele mesmo tenha matado, uma determinação que faz parte de um desafio pessoal que se propôs a cumprir neste ano, segundo reportagem publicada nesta quinta-feira pela revista Fortune.
“Neste ano, me tornei praticamente vegetariano , já que só como os animais que eu mesmo mato. Até agora tem sido uma boa experiência. Como alimentos muito mais saudáveis e aprendi muito sobre agricultura e criação de animais”, afirmou Zuckerberg em carta enviada à Fortune e divulgada pela revista em seu site.

Mark Zuckerberg entendeu tudo errado sobre qual é o problema que existe em comer carne. O problema verdadeiro não é simplesmente os onívoros não terem consciência de onde vem a carne que comem, mas sim a implicação ética que isso tem. Ou seja, a alienação dos onívoros à exploração e matança intrínsecas à pecuária.
Se o onívoro está cometendo um ato eticamente questionável, não é estritamente porque ele paga para matar os animais nos matadouros. Mas sim porque ele é distante do sofrimento existente, da escravidão das fazendas e granjas, do nascer para servir. Mas o fundador do Facebook entendeu a coisa por um caminho totalmente equivocado e achou que o problema era o onívoro ter coragem para ele próprio ser o assassino dos animais que come.
Daí esse espetáculo bizarro que estamos vendo acima. Um bilionário, milênios depois de o Paleolítico ter acabado na Europa, achar que está dando um exemplo ao mundo por literalmente matar para comer. E ainda pensar que está sendo “benévolo” ao degolar suas vítimas.
Apesar do esforço dele, isso não vai pegar como uma moda, porque é inviável muitas pessoas explorarem animais para consumo regular em apartamentos de classe média. Ele continuará sendo uma exceção que entendeu o dilema do onivorismo de forma totalmente tronxa.
E pior: ele está pondo em risco sua sensibilidade a atos de derramamento de sangue, sua empatia ao sofrimento alheio – se é que ele tem essa empatia. Posso estar incorrendo em falácia de declive escorregadio, mas é capaz de ele, num futuro próximo, perder a sensibilidade para qualquer ato de crueldade contra animais não humanos, ou mesmo contra seres humanos, ao ler notícias com esse tema na internet ou ver na TV (se é que bilionários ainda assistem televisão). Porque investir-se no ato de matar banalmente é um potencial primeiro passo para a perda de qualquer sensibilidade à violência.
Portanto, literalmente, não faça isso em casa. Se você quer se livrar do dilema de pagar para outros matarem os animais que você come, faça-o pelo caminho mais simples: torne-se vegetariano – e busque o veganismo em seguida. Assim nenhum animal mais morrerá por causa de você a dezenas ou centenas de quilômetros de sua casa.
Por Janaína Camoleze

29 de maio de 2011

1° VEGNIC DE PIRACICABA/SP



O V.I.D.A. agora está presente também na cidade de Piracicaba/SP e, para dar início às suas ações, convida todos para o primeiro VEGNIC!

O VEGNIC é nada menos que uma proposta de confraternização, para que os vegetarianos/veganos ou até mesmo os onívoros da região tenham um espaço no qual possam se conhecer melhor, trocar idéias sobre diversos assuntos, propor novas maneiras de agir em prol da LIBERTAÇÃO ANIMAL.

Basta aparecer no local do evento com um PRATO DE COMIDA VEGANA (livre de exploração animal). 

Se você está em dúvidas sobre o que levar dê uma olhadinha nesses sites:


Ou apenas digite em algum site de busca de sua preferência: RECEITAS VEGANAS.

Há muitas opções simples e saborosas.

Mais informações, como horário e local, sobre o VEGNIC estão no cartaz acima.

Por Alex Peguinelli

28 de maio de 2011

Lei permite matança de animais abandonados no Chile

Modificações realizadas pelo Ministério de Agricultura afetam diretamente a proteção e conservação de diversas espécies.

Foto: Divulgação
O Ministério de Agricultura, cujo responsável é José Antônio Galilea, determinou realizar variações nas propostas do SAG (órgão que regula a conservação e caça das espécies) para a Lei de caça que implicam em mudanças nas normas de proteção das espécies. Uma das modificações inclui ampliar as condições de espécie “selvagens” e “prejudiciais” a cães e gatos abandonados, deixando-os em condições de “caça” e “captura”.
O documento diz que espécies consideradas “selvagens e/ou prejudiciais poderão ser caçadas ou capturados em qualquer época do ano, em todo o território nacional e sem limitações quanto ao número de peças ou exemplares”. A secretaria do Estado adicionou a essa lista espécies como a raposa cinzenta, o cão e o gato selvagens.
O documento já conta com a assinatura do ministro Galilea e do ministro da Defesa, Andrés Allamand, para entrar em vigência espera apenas a assinatura do ministro da Economia Juan Andrés Fontaine.
A norma diz ainda que os animais “selvagens” são todos aqueles “que vivam em condição de um animal selvagem”, não particularmente aqueles que vivem em zonas rurais.
Segundo o jornal PrensAnimalista, esse é o ponto mais polêmico, pois abre a possibilidade de captura, caça e até extermínio, de cães e gatos abandonados, que não tenham tutor ou não estejam portando coleira.
O tratamento dado aos animais abandonados por parte das autoridades, sempre manteve os grupos ambientalista em alerta. Já houve momentos em que as autoridades municipais ordenaram a erradicação dos animais, alegando perigo para a sociedade. Estima-se que no Chile, há pelo menos 1 milhões e meio de cães abandonados.
A proposta inicial do SAG incorporava uma série de animais invertebrados na lista de protegidos, tais como, borboletas, aranhas, escorpiões e libélulas, cuja caça ou captura estariam proibidas em todo o território nacional. A ideia era deter a exploração dessas espécies, que há tempos vêm sendo dizimadas. A proposta não foi considerada pelo Ministério de Agricultura, que manteve a norma anterior de que quem captura essas espécies habitualmente deve inscrever-se no SAG.
A nova Lei de caça, que deve entrar em vigência ainda este ano, em seu artigo 5, manteve a autorização de caçar 36 espécies, incluindo ratos e cervos.
Fonte - Danielle Bohnen (da Redação)
Por Nathalia Mota

24 de maio de 2011

Consumo da douradinha em Manaus e no Brasil aumenta matança de botos

O consumidor brasileiro do peixe conhecido como douradinha, mesmo sem saber, está contribuindo para a matança dos botos tucuxi e vermelho, na bacia amazônica.
Muito apreciado no mercado colombiano, o consumo tende a crescer no mercado amazonense, sobretudo em Manaus, segundo prognósticos de especialistas, que alertam para o aumento progressivo da matança dos mamíferos aquáticos nos últimos anos.
Douradinha é como foi rebatizado no mercado consumidor regional e nacional o peixe piracatinga (Colophisus macropeterus), chamado pelos caboclos da região como “urubu d´água” devido à sua voracidade por carnes em decomposição, sobretudo as do boto.
Para acumular 1.800 toneladas de douradinha (não confundir com dourada), que é a média anual de captura deste peixe no mercado local,  é preciso matar aproximadamente 4.300 botos ao ano, segundo cálculos estimados pela Secretaria Estadual de Produção Rural do Amazonas (Sepror).
Segundo José Leland, analista ambiental e assessor da secretaria executiva da pesca da Sepror, o crescente interesse pelo consumo da douradinha, registrado desde 2006, está intimamente vinculado à intensificação da matança dos botos no Amazonas de cinco anos para cá.
O Instituto Nacional de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) também já identificou essa associação e vem aumentando a fiscalização nas calhas dos rios.
“O aumento do alerta da matança do boto está proporcional ao tempo que a douradinha também passou a ser vendida em Manaus com essa nova nomenclatura, para ter boa aceitação”, disse Mário Lúcio Reis, coordenador do Ibama no Amazonas.
Mercado
O mercado consumidor da douradinha em Manaus ainda é incipiente, mas a tendência é de crescimento, segundo Leland. Na capital amazonense, ele é vendido em forma de filé em supermercados e lojas especializadas, a uma média de oito reais o quilo.
Segundo Mário Lúcio Reis, o principal mercado é o Estado de São Paulo. O peixe também é exportado, na maioria das vezes clandestinamente, para a Venezuela e Colômbia. A partir destes países, eles são enviados para destinos desconhecidos.
Em Manaus, os principais consumidores são “pessoas de fora e turistas”, conforme Leland, pois o peixe é oferecido em cardápios de restaurante e hotéis.
“O consumidor do Amazonas tem uma rejeição natural porque se trata de um peixe liso e que come carniça. Mas ele é massivamente exportado para a Colômbia e para São Paulo. Pelo que a gente tem notícia, é também muito consumido nos Estados Unidos”, disse.
Das 1.800 toneladas comercializadas anualmente, 1.100 toneladas, contudo, são vendidas de forma clandestina, com saída pela fronteira do país com a Colômbia.
Dados da Sepror estimam que em Manaus, a produção dos frigoríficos é de 450 toneladas ao ano visando o mercado colombiano, venezuelano e paulista.
O consumo interno da douradinha (que também recebe o nome de pintadinha) é abastecido com 180 toneladas por ano. Eles são consumidos sobretudo hotéis e restaurantes.
Esta quantidade corresponde a 1,2% do total de peixe comercializado em Manaus, que chega a 160 mil toneladas ao ano.

Aliciamento

“Se as pessoas soubessem que elas estão consumindo os peixes que comem carne de botos capturados elas não comprariam e impediriam, de certa forma, a pesca para abastecer Manaus”, comentou.
Segundo Lobato, o Ibama realiza fiscalização da pesca do boto nas regiões dos municípios de Tefé e Maraã, mas segundo ele, esta ação é difícil porque muitos donos de barcos-frigoríficos aliciam ribeirinhos para que eles realizem a matança do mamífero.
“Em março pegamos e multamos um barco, em Fonte Boa, pescado com carne de boto e jacaré”, informou.


Por Janaína Camoleze

21 de maio de 2011

ANDA lança livro sobre abolicionismo animal



A Agência de Notícias dos Direitos Animais (ANDA) lança o livro Visão Abolicionista: Ética e Direitos Animais, na Matilha Cultural, dia 24 de maio, às 20h. Nesta data, haverá debate com presença dos autores Laerte Levai, promotor público, Tamara Levai, bióloga, Dennis Zagha Bluwol, geógrafo, e da organizadora Silvana Andrade, jornalista.
A edição desse volume marca um passo importante na trajetória da ANDA, “a luta pelo respeito à vida e à liberdade dos animais, por muito tempo vista como produto do sentimentalismo romântico e inconsequente, começa a ganhar destaque em nosso país, e passa, finalmente, a ser um movimento legítimo com propósito claro e apoiado sobre forte base tanto científica quanto filosófica”, explica Silvana.
O livro demonstra que os defensores dos animais no Brasil aprenderam, tanto quanto seus opositores, a importância da reflexão, do conhecimento e da argumentação racional. “Os direitos animais são a continuação lógica dos direitos humanos. Eles vieram para somar e aprofundar, não para reduzir ou relativizar”, adianta Silvana Andrade.
Os direitos fundamentais à vida, liberdade e integridade que o ser humano, na sua arrogância, um dia atribuiu à sua excepcionalidade no universo, agora são percebidos nitidamente como inalienáveis das outras formas de vida animal. “Isso porque o que define a posse desses direitos fundamentais não é sua indubitável capacidade de construir e imaginar mundos inteiros e expressar-se pelas mais sublimes formas de arte, mas sim o respeito pela vida e a liberdade é a sensibilidade e a consciência – a senciência, que faz com que todo animal defenda sempre sua vida e liberdade”, arremata Silvana Andrade.
Serviço
Evento: Lançamento do livro Visão Abolicionista: Ética e Direitos Animais
Data: 24 de maio de 2011
Horário: 20h
Local: Matilha Cultural – Rua Rego Freitas, 542 Consolação
Tel.: (11) 3256-2636
Aquecimento Central: Dj Zinco + Dj Soares + Marginals
Grátis
Matilha Cultural
A Matilha Cultural é uma entidade independente e sem fins lucrativos, instalada em um edifício de três andares, localizado no centro de São Paulo. A Matilha integra um espaço expositivo, sala multiuso e café, além de um cinema com 68 lugares. Fruto do ideal de um coletivo formado por profissionais de diferentes áreas, a Matilha foi aberta em maio de 2009 e tem como principais objetivos apoiar e divulgar produções culturais e iniciativas socioambientais do Brasil e do mundo.
Matilha Cultural
Rua Rego Freitas, 542 – São Paulo
Horários de funcionamento: terça-feira a sábado, das 12h as 20h
Wi-fi grátis
Cartões: VISA (débito/crédito)
Entrada livre e gratuita, inclusive para cães
www.matilhacultural.com.br


Por Willian Santos e Henrique Cruz

20 de maio de 2011

Cachorros espancados por adestrador em Campinas, SP


Adestrador espanca cachorro e vai parar na delegacia.  Suspeito foi flagrado por policiais civis surrando um cão pastor no Jardim Nova Europa, em Campinas.


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 O dono do centro de adestramento e locação Cães em FériasPaulo Fernando Correia, 41 anos, foi detido e levado para a Delegacia do Setor de Proteção aos Animais e Meio Ambiente de Campinas, na tarde desta quinta-feira (19), após ser flagrado por policiais da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) batendo em um pastor alemão com um chicote de couro no interior do estabelecimento no Jardim Nova Europa.


Segundo o investigador do Setor de Furtos e Roubos de Veículos da DIG, Hélio Pavan, a equipe passava pelo local, na Avenida São José dos Campos, quando ouviu o que parecia ser gritos. 'Pensamos que podia ser um assalto e quando chegamos vimos ele dando chicotadas nas costas e nas ancas do cão que estava amarrado a um poste e os dois funcionários ao lado, assistindo e rindo', contou.





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Pastor alemão que estava sendo agredido no momento do flagrante policial
(Foto: Hélio Pavan/Divulgação)

Segundo os policiais, no momento da abordagem havia um outro pastor no local e a suspeita é de que ele também tenha sido vítima de agressão.
No interior do centro, haviam cerca de 25 cachorros de grande porte, entre rottweilers, pastores, são bernardo e mastim, separados em baias. Segundo a delegada, Rosana Vescovi Mortari, foi constatado que o espaço destinado aos cães era inadequado, que as baias eram pequenas, a limpeza precária, não havia água para os cachorros, nem isolamento no chão contra o frio ou contato com a urina.
 'Haviam cerca de 25 cachorros de grande porte, todos em situação de maus tratos. Além disso, até as gaiolas usadas para o transporte em carros eram extremamente pequenas para cães daquele porte', afirmou a delegada. Um veterinário e uma equipe de peritos foram acionados ao local.

Correia e os funcionários E.R.S., 28, e J.J.S., 24, foram levados para delegacia onde foi feito um Termo Circunstanciado de Ocorrência. Eles responderão em liberdade pelo crime de maus tratos contra animais, cuja pena, segundo a delegada, é de três meses a um ano de reclusão.

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Paulo Fernando Correia, 41 anos, foi detido e levado para a delegacia do Setor de Proteção aos Animais e Meio Ambiente de Campinas
(Foto: Leandro Ferreira/AAN)

Um chicote e um cacetete de couro usado para bater nos cães foram apreendidos pela polícia. Os cachorros também foram apreendidos, mas ficarão depositados no local - isto é o dono não poderá dispor dos animais - até que seja encontrado um espaço adequado para levá-los, em virtude da quantidade de cachorros. 'Também temos, ao que parece três cães de outros donos que estavam ali para serem adestrados e, nesses casos, os proprietários serão chamados na delegacia, ouvidos e os cachorros entregues para eles', explicou Rosana.

Segundo a delegada, já havia denúncias contra o local de maus tratos que estão sendo investigadas. 'Esse caso não vai parar por aqui. Temos denúncias que já estão sendo apuradas. Hoje (19/05) ocorreu uma coincidência de a equipe estar passando pelo local e ver o cão sendo agredido', explicou.

Segundo ela, a empresa está com alvará vencido desde 2008 e não possui permissão para a guarda de cães no local. De acordo com a delegada, será encaminhado para a prefeitura e órgãos competentes ofícios a respeito do alvará vencido. A Agência Anhanguera esteve no centro, mas ninguém quis comentar o caso.

Fonte: RAC.COM.BR

Por Nathália Mota

19 de maio de 2011

Livro defende o respeito aos animais como um aprendizado de humanidade


Seja na metamorfose de um jovem em inseto ou no profundo mergulho interior de uma dona de casa ao encarar uma barata no armário, as artes e a literatura sempre tentaram esgarçar as grades com as quais a ciência e o comportamento antropocêntricos separam os homens das outras espécies. Meninos-pássaros, homem-jangada, esposas vegetais, mulher-pantera, pergaminho humano, matrix, avatares, indivíduos biônicos, água-viva: o homem sempre experimentou existências híbridas no plano do imaginário, fruto do contágio e da contaminação.
Essas experimentações do imaginário finalmente ecoaram para a ciência. Só no século 20 e, sobretudo, neste século, quando as fronteiras entre o animal, o humano e a máquina foram mais seriamente tensionadas, parte emergente dela decidiu colocar em xeque os parâmetros em torno do conceito de humano com base no que supunha saber sobre os animais e outras espécies.
Livro foi lançado pela EdUFSC, nessa segunda-feira.
Fruto de uma parceria entre a EDUFSC e a Fapemig, a obra Pensar/Escrever o Animal – Ensaios de Zoopoética e Biopolítica vem a público com esse propósito. O lançamento em Florianópolis está marcado para a próxima segunda-feira, às 17h, no Centro de Cultura e Eventos da UFSC, como parte das comemorações dos 30 anos da editora.
Organizada pela professora da Universidade Federal de Minas Gerais Maria Esther Maciel, a obra é a primeira publicação no Brasil que expressa o pensamento contemporâneo multidisciplinar em torno de uma das questões mais emergentes da atualidade: a superação do antropocentrismo.
O movimento de animalização do ser humano na literatura e nas artes não é atribuído por esses filósofos à inferiorização metafórica dos animais, nem a uma mera apologia da natureza, mas antes a uma necessidade visceral e recalcada de libertar o próprio homem das amarras de ser homem oprimindo as outras espécies.
Como você situa, dentro do pensamento contemporâneo, o movimento inserido nessa obra que se propõe a refletir sobre as questões da animalidade?
Maria Esther Maciel – Ela parte de duas instâncias: de um lado, a reflexão sobre animais e a animalidade; de outro as relações entre humanos e outras formas de vidas. Esse tema tem estado em evidência em vários campos do conhecimento, sobretudo na Europa, América do Norte e Austrália, onde é uma questão muito viva. Envolve estudos na área de zoologia, filosofia, literatura, artes, antropologia, ecologia que compõem um novo campo multidisciplinar chamado Estudos Animais. Esse livro é uma primeira tentativa de colaborar para a construção desse campo de estudos no Brasil. É o primeiro livro que busca essa abordagem transdisciplinar da questão animal dentro do pensamento contemporâneo.
Quem são os precursores desse pensamento?
Maria Esther – Derridá, com seus antológicos escritos sobre o animal. As abordagens bioéticas de Agamben, com O Aberto, e Peter Singer, autor de A Libertação Animal. Deleuze, com a ideia de que o homem carrega um devir-animal. Foucault, ao propor a relação entre animal e loucura, o Georges Bataille e a exploração do erotismo, o conceito cyborg de Donna Haraway, enfim, autores de diversas áreas que realizaram estudos importantes sobre animalidade e as relações entre humano e animal e que ajudam a compor essa crítica na direção de um pensamento pós-humano.
O que estaria no âmago do antropocentrismo?
Maria Esther – Trata-se de um sentimento de soberania e superioridade humana, que leva à inferiorização das demais espécies, promovendo a associação dos “outros humanos” aos “outros animais”. O antropocentrismo hierarquiza e tiraniza por sua potência não só as espécies diferentes, mas os próprios humanos, subjugando os que são tidos como inferiores e por isso podem ser mortos. O poder soberano delibera sobre a vida e a morte desses grupos de pessoas relegadas ao lugar de prisioneiros de guerra, como fez o nazismo, como faz o imperialismo, ao anular esses seres humanos associando-os aos animais. Em síntese, a maneira como o homem soberano trata os animais, na qual tudo é permitido, é transposta para as relações humanas nesse exercício de poder em que se pode dispor da vida do outro e determiná-la.
O que há de novo nessa retomada da crítica ao antropocentrismo e à racionalidade humana?
Maria Esther – Pela primeira vez estamos nos deixando perturbar pela presença do animal. Nessa “reviravolta animal”, estamos deixando que surja esse outro do próprio homem que foi excluído, desprezado, em nome da máquina antropocêntrica.
Aliás, a questão da animalidade ganhou impacto quando o filósofo francês Jacques Derridá publicou O Animal que Logo Sou.
Maria Esther – Derridá começou este livro a partir da perturbação pessoal que lhe causava o olhar de seu gato, e chamando a atenção para o fato emblemático de que até então a filosofia ocidental nunca havia refletido sobre como pode o animal olhar o homem… Derridá faz uma crítica radical a uma linhagem da filosofia em que se inscrevem Aristóteles, Descartes, Heidegger, Levinás, que analisa o homem partindo de um ponto de vista antropocêntrico para falar da importância dessa questão para a filosofia contemporânea no sentido de desestabilizar um conceito clássico de humanismo que se tinha como justo e igualitário.
Afinal, por que a humanidade precisa pensar sua animalidade?
Maria Esther – Aproximar-se do animal é se tornar mais animal. Amar os animais é um aprendizado de humanidade. O homem pode se pluralizar com essa relação. É a forma mais radical de alteridade. Recuperar a animalidade é o sentido de recuperação do humano, porque o animal não se dissocia da humanidade. Há certa necessidade atávica de recuperar uma animalidade perdida.
E como você vê a emergência política dessa temática para a sociedade como um todo?
Maria Esther – De um lado, há uma questão contextual concreta, relacionada às grandes catástrofes ecológicas a despertarem a consciência em relação à natureza e ao equilíbrio entre todas as formas de vida. Por outro, a própria crise do conceito de razão como elemento dissociado, diferenciador próprio do humano, capaz de dar a ele o poder sobre as demais espécies. Estamos vivendo uma crise da filosofia da maneira de pensar nosso ser e estar no mundo em relação ao que nos cerca.
Em síntese, quando e como a ciência estabeleceu a cisão entre homens e animais?
Maria Esther – É difícil dizer porque animalidade não é algo que se possa definir com precisão. A cisão se deu muito em cima do triunfo da razão em cima de marcas humanas diferenciadas e que poderiam justificar o domínio de um sobre o outro. Essa cisão deixou o humano desprovido de algo que é inerente a nossa condição animal e pode nos melhorar na nossa relação com o outro. O ser humano não tem ainda a consciência de que faz parte de uma comunidade híbrida interespécies. Essa consciência passa pelas questões ecológicas, mas também pela crise da ideia de humano em função das novas tecnologias, da vida artificial, das próteses que funcionam como extensões do corpo e provocam uma crise no conceito de humano enquanto espécie separada das outras formas de vida.
Em grande medida, tudo o que a ciência definiu sobre o homem o fez em contraste ao que pressupõe como suas vantagens sobre o animal. Mas nós sabemos quem é o animal?
Maria Esther – Somos totalmente ignorantes em relação ao animal, que é um estranho por excelência, pois como imaginar o que o animal sente, pensa ou é? Não há linguagem em comum que permita esse conhecimento. Os estudos da animalidade estão atentos às descobertas recentes da etologia sobre as qualidades dos seres humanos em termos de inteligência, de sensibilidade, de atributos que eram tidos como humanos. Hoje esses estudos de comportamento do animal têm revelado propriedades impressionantes nos animais.
Inclusive no campo da linguagem, que é um limite demarcado como o que distingue o humano por excelência?
Maria Esther – Sim, há um campo exploratório pensando o animal também como um ser de linguagem. É o campo da zoossemiótica, que está em expansão no leste europeu, com imbricações na linguística e na semiótica. Ver o animal também como um ser de linguagem abre uma perspectiva de nos relacionarmos com o outro de uma maneira menos violenta e mais igualitária.
A ciência e o pensamento cartesiano ocidental se sustentam na distinção do humano, mas a literatura, as artes, as culturas pagãs e primitivas nunca se restringiram a essa prisão do homem como um ser absoluto que domina o mundo. São povoados por personagens e figuras míticas que experimentam formas híbridas entre humanos, animais, vegetais, máquinas…
Maria Esther – Sim, inclusive através da literatura é possível traçar a história do animal e de sua relação com o homem. Desde as fábulas de Esopo, desde os gregos antigos, os animais aparecem com muita força antropormofizados, alegorizados, metaforizados ou como personagens merecedores de respeito e de espaço como arquétipos positivos ou negativos. Em geral, a literatura ficou muito voltada para a metáfora pejorativa ou fantástica do animal. Mas o animal sempre usado como metáfora do humano, como ponto de partida para um projeto humano, o homem sempre no foco. Desde os gregos, passando pela idade média, o animal foi colocado a serviço do humano. A mudança de parâmetro se deu na idade moderna em função de Darwin, da teoria darwiniana que questiona o criacionismo e marca as origens animais do homem. Depois, os avanços da ciência do animal fizeram com que aparecesse como um ser pleno em si mesmo (e não apenas como primitivo do homem) e aí aparece na literatura uma tentativa de exercitar a animalidade.
Paralelamente, há um movimento de exclusão e demonização da animalidade nos séculos 18 e 19.
Maria Esther – De fato, isso tem a ver com uma mentalidade religiosa muito puritana de sacralização da espécie humana. O catolicismo oficial contribuiu muito para a renegação do animal e para a fixação desse estigma que o relega à inferioridade, violência, irracionalidade, loucura, sexualidade, perversão. Os animais são os que não têm alma. Esse especismo religioso teve repercussão simbólica na literatura, com o surgimento dos monstros, híbridos entre formas humanas e animais do século 19, revelando uma animalidade recalcada, que vem do imaginário como monstruosa e ameaçadora. O que na verdade é um retorno a um momento da Idade Média em que a repressão do catolicismo à animalidade e aos mitos pagãos provocou essa composição monstruosa e recalcada do animal. Hoje os vampiros e os lobisomens retornaram à cena na ficção literária e cinematográfica, mas esvaziadas de sua animalidade.
Você acredita que um dia olharemos para trás e pensaremos na relação predatória em grande escala que temos com os animais sentindo a vergonha e a perplexidade que hoje temos ao examinar crimes naturalizados no passado, como a escravidão dos negros pelo ocidente?
Maria Esther – Acho uma expectativa um pouco utópica. Infelizmente, minha expectativa é que em breve não haverá mais animal enquanto um outro que proporciona uma experiência radical de alteridade. Os que vão persistir são os do zoológico e para produção de alimentos, numa reprodução em série e cruel, dentro do pior do sistema capitalista. Acredito que de um lado haverá uma destruição avassaladora da vida animal selvagem e livre, em paralelo à humanização excessiva dos animais domésticos e, por outro, essa produção massiva de viventes em condições bárbaras, seres de vida curta e programada, nascidos para serem mortos deliberadamente.

Por Nathália Mota