24 de maio de 2011

Consumo da douradinha em Manaus e no Brasil aumenta matança de botos

O consumidor brasileiro do peixe conhecido como douradinha, mesmo sem saber, está contribuindo para a matança dos botos tucuxi e vermelho, na bacia amazônica.
Muito apreciado no mercado colombiano, o consumo tende a crescer no mercado amazonense, sobretudo em Manaus, segundo prognósticos de especialistas, que alertam para o aumento progressivo da matança dos mamíferos aquáticos nos últimos anos.
Douradinha é como foi rebatizado no mercado consumidor regional e nacional o peixe piracatinga (Colophisus macropeterus), chamado pelos caboclos da região como “urubu d´água” devido à sua voracidade por carnes em decomposição, sobretudo as do boto.
Para acumular 1.800 toneladas de douradinha (não confundir com dourada), que é a média anual de captura deste peixe no mercado local,  é preciso matar aproximadamente 4.300 botos ao ano, segundo cálculos estimados pela Secretaria Estadual de Produção Rural do Amazonas (Sepror).
Segundo José Leland, analista ambiental e assessor da secretaria executiva da pesca da Sepror, o crescente interesse pelo consumo da douradinha, registrado desde 2006, está intimamente vinculado à intensificação da matança dos botos no Amazonas de cinco anos para cá.
O Instituto Nacional de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) também já identificou essa associação e vem aumentando a fiscalização nas calhas dos rios.
“O aumento do alerta da matança do boto está proporcional ao tempo que a douradinha também passou a ser vendida em Manaus com essa nova nomenclatura, para ter boa aceitação”, disse Mário Lúcio Reis, coordenador do Ibama no Amazonas.
Mercado
O mercado consumidor da douradinha em Manaus ainda é incipiente, mas a tendência é de crescimento, segundo Leland. Na capital amazonense, ele é vendido em forma de filé em supermercados e lojas especializadas, a uma média de oito reais o quilo.
Segundo Mário Lúcio Reis, o principal mercado é o Estado de São Paulo. O peixe também é exportado, na maioria das vezes clandestinamente, para a Venezuela e Colômbia. A partir destes países, eles são enviados para destinos desconhecidos.
Em Manaus, os principais consumidores são “pessoas de fora e turistas”, conforme Leland, pois o peixe é oferecido em cardápios de restaurante e hotéis.
“O consumidor do Amazonas tem uma rejeição natural porque se trata de um peixe liso e que come carniça. Mas ele é massivamente exportado para a Colômbia e para São Paulo. Pelo que a gente tem notícia, é também muito consumido nos Estados Unidos”, disse.
Das 1.800 toneladas comercializadas anualmente, 1.100 toneladas, contudo, são vendidas de forma clandestina, com saída pela fronteira do país com a Colômbia.
Dados da Sepror estimam que em Manaus, a produção dos frigoríficos é de 450 toneladas ao ano visando o mercado colombiano, venezuelano e paulista.
O consumo interno da douradinha (que também recebe o nome de pintadinha) é abastecido com 180 toneladas por ano. Eles são consumidos sobretudo hotéis e restaurantes.
Esta quantidade corresponde a 1,2% do total de peixe comercializado em Manaus, que chega a 160 mil toneladas ao ano.

Aliciamento

“Se as pessoas soubessem que elas estão consumindo os peixes que comem carne de botos capturados elas não comprariam e impediriam, de certa forma, a pesca para abastecer Manaus”, comentou.
Segundo Lobato, o Ibama realiza fiscalização da pesca do boto nas regiões dos municípios de Tefé e Maraã, mas segundo ele, esta ação é difícil porque muitos donos de barcos-frigoríficos aliciam ribeirinhos para que eles realizem a matança do mamífero.
“Em março pegamos e multamos um barco, em Fonte Boa, pescado com carne de boto e jacaré”, informou.


Por Janaína Camoleze

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