10 de novembro de 2010

Veja publica matéria condenando o vegetarianismo entre crianças

A Revista Veja dessa semana publicou matéria comentando – e condenando – vegetarianismo entre crianças.
Destaco trecho da matéria (que pode ser visto aqui) que foi intitulada “Filhinhos Vegetarianos, nem pensar”, ilustrada com o gigantesco prato de alface. E, se alguém pensa que um título desses pode ser imparcial, discordo.

É engraçado com uma revista de grande circulação, com um boa dose de irresponsabilidade, tem o poder de atormentar a vida de milhares de mães vegetarianas que já sofrem com a pressão da família, da insegurança e – isso é importante – com dados questionáveis ao fazer uma afirmação desse tipo.

Por mais que a prova viva da saúde esteja ali correndo, brincando, gritando, se sujando e fazendo tudo que qualquer outra criança faz. E crescendo com saúde visível e um senso crítico em relação à própria alimentação que poucas têm a oportunidade de conhecer.
Não tenho filhos. Mas conheço algumas mães vegetarianas que têm. Umas próximas, outras são clientes. Mas vejo que o desenvolvimento dessas crianças e é completamente normal.

Ao mesmo tempo, tenho sobrinhos e conhecidos creófilos e, honestamente, lamento pela alimentação deles pelo lado ético, pela má qualidade, pelo excesso de industrializados e porcarias convenientes vendidas como saudáveis pelos fabricantes. Comem um “danoninho”, jantam nugget, doces banhados em corantes; mas não comem uma fruta, uma castanhas, um legume preferido, um arroz integral, feijões (alguns comem arroz branco e caldo, jamais arroz integral e variedade de leguminosas em grãos), nada disso. Separam qualquer “verde” do prato, se negam a experimentar coisas novas e trocam facilmente uma refeição por um doce. E as mães se consolam com essa troca, já que “eles não comem nada”.

Não nego: existem crianças creófilas saudáveis, já que existe também a possibilidade de atingir uma alimentação considerada equililbrada com inclusão de derivados animais. O problema é: por que colocar no seu prato uma variedade de produtos antiéticos e inúteis se você pode ter uma variedade de cores, sabores e nutrientes muito maior com o que algumas pessoas ainda acham que é restrição? Se você não come 200g  de carne e ovos, você pode comer 2 tipos de feijão, um cereal integral e uma variedade de legumes no dia, por um preço menor. Se a sobremesa não é gelatina com sabor artificial, é uma salada de frutas. Se não toma leite, prepare-se para entrar no mundo das oleaginosas, leguminosas, cereais, frutas secas e vegetais verdes escuros.

E, acreditem, muitas crianças vegetarianas também comem bolos, sorvetes, biscoitos:  normalmente caseiros, conseqüentemente com menor freqüência, e com uma preocupação com os ingredientes e forma de preparo que poucas mães – especialmente as que acreditam na combinação mortadela e balas – têm, feitos com ingredientes 100% vegetais. Eu mesma faço, no VegVida, salgadinhos, sanduíches, bolos e brigadeiros veganos que fazem a alegria no aniversário de pequenos vegetarianos e seus convidados.

Há também crianças que não comem nem esses alimentos de exceção (veganos) e estão ótimas também.
Que toda criança faz manha, faz mesmo; mas não vejo as crianças vegetarianas com tanto medo assim de experimentar um pouco de tudo, justamente porque seus  pais costumam ter uma noção de nutrição melhor. A opção do danoninho e do nugget simplesmente não existem em casas vegetarianas. Mc Lanche Feliz é palavrão (já que ignoram a ética, algum pai ou mãe realmente aceita que isso á saudável?!) . Vegetais nas suas mais variadas formas, em compensação, não são bichos de sete cabeças.

Mas conheço mães que escolheram simplesmente mentir para seus obstretas e pediatras para terem um pouco de sossego. Esses – solicitados para dar uma orientação a fim de melhor balancear a dieta – insistem em recomendar carnes, frangos, peixes, fígado, ovos, queijos. O que elas fazem? Mentem, estudam por conta própria já que não podem contar com esses profissionais e – surpresa! – os exames continuam normais, isso quando não são dignos de elogio. “Pode deixar, doutor, vou seguir sua recomendação”, e da porta pra fora aquelas crianças continuam vegetarianas, veganas e completamente saudáveis. Ah, mas e se você se anima coms os resultados e conta: bom, ele continua vegetariano/vegano. Prepare-se pra ouvir o sermão e ter seu filho enviado pra um exame “só pra confirmar”. Que mãe vai aceitar isso? Nenhuma. Então elas mentem, doutores. Bastante. E deixam que vocês avaliem só o resultado, sempre digno de elogios.
E, honestamente, quem tem a melhor alimentação? “Mãe, quero brócolis” não é ficção de propaganda e acontece mais do que imaginam.

Você está grávida ou tem um filho? A minha recomendação é:  não peça conselhos sobre alimentação para seu médico regular. Parece irresponsável, mas é justamente o contrário: procure um nutricionista ou nutrólogo especializado em alimentação vegetariana ou que no mínimo conheça de fato o assunto. E leia sobre o assunto, tanto quanto mães de não-vegetarianos lêem e tomam suas próprias decisões também. Recomendo os seguintes textos e sites (alguns em inglês):
  • Alimentação sem Carne. Autor: Eric Slywitch. Livro de cabeceira de qualquer vegetariano brasileiro minimamente interessado em nutrição, é um dos poucos livros completamente objetivos e que trata puramente de como balancear uma dieta vegana em padrões ocidentais e científicos. Derruba qualquer mito e deveria ser leitura obrigatória para médicos e leigos que se manifestam sobre o assunto. Disponível para compra online.
  • Comida Vegetariana para crianças. Autora: Sara Lewis. Livro publicado com aval da Vegetarian Society Britânica, trabalha com o conceito de alimentação infantil lúdica com visual caprichado e divertido, dá diversas dicas de introdução de novos alimentos aos pequenos, desde a fase da alimentação até final da infância. Com enfoque ovolactovegetariano, o paralelo vegano é citado constantemente, assim como são indicadas as melhores adaptações nas receitas. Leitura obrigatória para grávidas e mães de pequenos vegetarianos. Disponível para compra online.
  • Alimentação Infantil Vegetariana. Autora: Eliane Lobato Austragésilo.  Livro de 1984 e já esgotado, trabalha com um conceito de alimentação naturalista ovolactovegetariana, mas pode ser usado como referência também por mães veganas. Costuma ser encontrado em sebos, inclusive os virtuais.
  • Recursos para uma Vida Natural. Autora: Eliza S. Biazzi. O livro tem um enfoque naturalista, vegetariano sem ovos ou leite mas com inclusão de mel. Há outras restrições absolutas como açúcares e temperos, o que não é todo vegetariano que segue (eu, por exemplo). Mas é também uma boa referência para dieta de gestantes, dieta infantil, tratamentos naturais, etc. Também costuma ser encontrado em sebos.
  • Site “The Vegetarian Resource Group”. Grupo de estudos que dá suporte a todos os comentários feitos sobre dieta vegetariana no âmbito do USDA, tem página específica sobre alimentação infantil: http://www.vrg.org/family/kidsindex.htm
  • Site “Materna Vegetariana”. Mães provando que seus filhos são saudáveis e contando diversas experiências http://maternavegetarianas.blogspot.com/
Mas, como sempre, vamos ter que ouvir dos leitores dessa revista, à exemplo do que já ocorreu com outra publicação em 2008 (vide: http://vegvida.com.br/modules/news/article.php?storyid=30 ), “que não podemos ser saudáveis assim”. Bom, se eu tiver filhos, já sei pelo menos de onde boa parte das pessoas tira as bobagens repetidas à exaustão que somos obrigados a ouvir.

Renata Octaviani Martins, autora desse texto, escreveu uma carta em resposta à matéria da Revista Veja que pode ser lida aqui.

Fonte

Por Nathalia Mota

Um comentário:

  1. POis é, uma revista de grande circulação falando este tanto de besteira. POis é...levar uma vida vegetariana é saudável para o organismo, para o meio ambiente, para os animais. É muito fácil acabar com a vida de um ser, quando este ser não é vc! E por ser uma revista de grande circulação é que deveria pensar antes d efalar as coisas. Lógico que defenderão comer carne, por trás disso estão grandes fazendeiros, pessoas com muita grana e pessoas que ainda acreditam que a carne tem nutrientes. Acho q deveriamos fazer um abaixo assinado, algum tipo de protesto contra o q eles disseram. Vidas são acabadas pra satisfação dos seres humanos. Animais matam animais por pura sobrevivencia. Seres humanos matam animais por puro prazer.

    Depois que passei a levar uma vida vegetariana, ganhei peso (coisa que não acontecia nunca, por mais que eu tentasse), minha alimentação é muito, mas muito mais saudável.

    Seria muito importante que o autor da mátéria na revista procurasse se informar um pouco mais.

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